quinta-feira, 24 de março de 2011
Língua nos dentes
Vejo todos, mas nem todos me vêem. Poucos. Pouquíssimos. Passo os dias deparando-me com expressões. Desgosto, medo, nojo, as mais comuns. Desde que acordo até a hora que me deito passo a maior parte do tempo vendo gente me olhando de cara feia. Como se essa gente não merecesse nem mesmo o meu olhar. Eu posso escolher entre lágrimas sombrias em cantos obscuros causadas por uma dor cujos fundamentos não fazem o menor sentido ou simplesmente ignorar as bisonhas expressões. Não que seja uma escolha, mas uma possibilidade. E se hoje estou vivo é porque ainda tenho forças. Enxuguei os olhos e superei o insuperável. O simples fato de ainda estar de pé prova que sou um guerreiro da vida. Se você acha que tem problemas é porque não está na minha pele, convivendo sem conviver. Sem nada e sem ninguém só me resta observar. Observar e sonhar. Vivo de ilusões por temer o fundo do poço. Pelo menos assim eu sou feliz. Mas essa não é mais uma escolha. É o meu único caminho. Nas noites frias aqueço o meu coração com muita cachaça e uma memória que tarda mas não falha. Enquanto ouço o som do silêncio, recordo-me. Dos dias em que eu não era a vítima e sim o assassino. Quando o dedo que apontava vinha de minhas mãos e os olhos que arregalavam partiam do meu rosto. Um assassino que aos poucos, autoflagelou-se. Até que um dia o tiro saiu pela culatra. Eu tinha tudo e agora não tenho nada. Era feliz e não sabia. Vivo a preencher um vazio infinito, a procura de uma luz. Tentando distinguir o real do imaginário. Dia após dia, vou sobrevivendo mais do que vivendo, me alimentando com sobras. Sentindo o gosto da amarga saliva. Prazer, sou um antigo empresário de sucesso, mas atualmente me chamam de andarilho fracassado.
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foda!! adoro ler seus textos..
ResponderExcluirtu manda mto bem!
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