(foto: Amante da vida, tattoo - por mim e em mim)Seguindo minha rotina matinal com meus glúteos afundados naquele banco, apenas um banco dentre os muitos que ali haviam sobrepostos em quatro rodas ocupados por carne e osso. Meu coração pulsava de acordo com os timbres e acordes que soavam em meus ouvidos derivados de muito hip hop underground. Talvez para aquele monte de carne enlatada seria apenas mais um dia chato e extressante se não como todos os outros de sua rotina rotineira e monótona. O cheiro de "não vejo a hora de voltar pra casa" era o único que eu conseguia inalar naquele ambiente. Eis que surge um outro cheiro: a maresia. Se manifesta dentro daquela jaula sobre rodas e me provoca sentimentos. Olho para o horizonte através da janela e vejo aquela imensa esfera rosa vibrante e vital se despedindo de seu caríssimo irmão Mar para encontrar seu caríssimo irmão Céu. Observo estaticamente seu movimento, aproveito a paisagem santuária para fechar os olhos e agradecer. Um momento, poucos segundos, infinita intensidade. Tão poucos segundos que passa despercebido aos olhos de quase todo o restante de glúteos afundados em bancos sobrepostos em quatro rodas que ali estavam. E para os que percebem, não passa de pura rotina. Posso ver a vida em suas variadas formas e lugares. Cercado de prédios cinzentos, amargos e sombrios observo atentamente aquela única plantinha entre um cimento e outro, lutando com todas as suas forças - as forças da natureza - para viver. Nunca um ser humano conseguiria tamanha façanha. São tão fracos que não reconhecem ser mais fracos que a natureza. Com arrogância e menosprezo cospem no prato em que comeram e num estalar de dedos esquecem que antes deles havia a natureza e que ela os recebeu de braços abertos. Que bom que a vida me deu olhos. Não sei o que seria de mim sem olhos. Muitos não precisavam ter. Muitos deveriam doar seus olhos para quem nasceu sem, aposto que estes não fariam tamanha desfeita e veriam o mundo com os mesmos olhos robotizados mas de maneira consciente. Penso na vida a todos instantes, a todos momentos. Sinto vontade de expressar pro mundo o que eu sinto e o que eu enxergo. Talvez ainda não seja a hora, mas sei que essa hora mais cedo ou mais tarde vai chegar. Enquanto não chega vou expressando meus sentimentos através de meios possíveis, como as tintas, as fotografias e este texto.
Nascer, crescer em um meio, adaptar-se da melhor maneira possível a este, observar, perceber, absorver, respirar fundo, pensar, filosofar, tirar as próprias conclusões, formular suas próprias ideologias, defendê-las, praticá-las, expandi-las, percebê-las, modificá-las, repetir este ciclo interminavelmente, pôr-las em prática, influenciar, sorrir, alegrar-se, ver o invisível, respirar o ar mais puro dos ares, harmonizar corpo alma e ambiente num só, aprender o que é amar, emocionar-se, amar a família, amar os amigos, amar os animais, amar as paisagens, amar as pessoas, amar o amor, viver. Sigo a risca todos estes entre-vírgulas e diante disto, estufo o peito para dizer: sou um amante da vida.

1ªmente parabéns pelo poema, mas algo me intrigou como você pode observar algo estaticamente dentro de um onibus?
ResponderExcluir"Observo estaticamente seu movimento, aproveito a paisagem santuária para fechar os olhos e agradecer."
ah e cuidado com palavras, as vezes elas enloquecem quem muito fala e pouco diz!