Era uma vez uma criança muito feliz que vivia num castelo onde muralhas não se faziam questão. Apenas um quarto e um jardim importavam.
Quando estava dentro de seu quarto era como se estivesse dentro de uma nave a deriva no universo sem fim. Minutos pareciam horas. As paredes mudavam de cor e os móveis de formato. As vezes era imenso como o deserto e as vezes tão pequeno quanto uma caixinha de fósforo. Mas nunca estava igual, sempre em constante mudança. Foi ali que ele descobriu que o universo cabia na palma da sua mão. Bastava fechar os olhos e querer que isso aconteça.
Quando o garoto não estava no seu quarto estava no seu jardim. Jardim dos Sonhos. Ali era onde ele sentia a magia da vida, sentia as energias emitidas pelas flores e pela grama. Onde ele descobria com as joaninhas, borboletas, tatubolas, grilos, gafanhotos, bixos da goiaba, passarinhos, marimbondos e abelhas motivos para sorrir. Ele não sabia o porquê, mas se sentia livre.
Como todo bom castelo, naquele jardim havia um guardião, que protegia o seu reinado e a sua coroa. Um gigante quadrúpde que soltava babas mortíferas capaz de te paralizar de amor. Entre os dois, uma lealdade infinita. Quando o rei queria sair de seu castelo para explorar o mundo, montava em seu guardião e os dois saiam juntos em busca de ouro para construir a maior coroa que já existiu na história de todos os reinados.
O menino cresceu e junto consigo o seu castelo. Tudo continua felizmente igual. A não ser pelo fato de que agora seu castelo tem muralhas. Esse menino sou eu.
